Cravo e Canela

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Faltou

Os dias vão passando rápido, né? 19 de janeiro de 2011, foi o dia exato que eu sentei no banco do 3 andar do hospital São Mateus e esperei o Dr. Leonardo. Ele veio caminhando sereno como sempre e a primeira frase dele foi: "sempre podemos ter esperança, pois milagres existem."  Estranho para um médico falar dessa forma, mas foi a maneira que ele talvez tenha encontrado para discorrer sobre prazos, tomadas de decisões, futuro e perda. Exatamente nesse dia, naquele banco ele confirmou o que eu já tinha fuçado na clinica de imagem e visto no laudo do exame. Nós tínhamos perdido a batalha e era hora de zelar pelo pouco que ainda restava, a dignidade do campeão. Lembro que em determinado momento eu perguntei sobre o tempo e foi aí que senti a dor da alma... - Um mês talvez. Eu abracei a minha amiga Diana, que sempre aparece meio como um anjo e chorei. Eu chorei por não conseguir. Eu chorei por esperar demais e saber que o tempo nesse caso era inimigo. Eu chorei por medo. Eu chorei porque não teria mais alguém para me proteger, mesmo quando eu dava uma de durona ele sempre ia lá e resolvia. Eu chorei porque não teria mais com quem brigar pelo controle da TV. Eu chorei porque não teria mais a minha referência de entusiamos, competência, empreendedorismo. Eu chorei por não ter mais o parceiro que ouvia minhas idéias e dizia que eu era capaz, mas tinha que perder a arrogância, pois eu usava isso como escudo e só atrapalharia minha vida. Eu chorei por não ter mais a quem: perguntar, responder e replicar e passar horas a fio defendendo meus argumentos e ele ouvir e findar com: - você deveria ser roteirista de filmes. E foi um mês e quatro dias. Foi um mês e quatro dias de esperança por um milagre. Foi um mês e quatro dias para eu me adaptar e aprender a viver só. Foi um mês e quatro dias que eu não tinha o porquê olhar o hemograma ou se tinha cristais amorfos na urina, eu não tinha mais o porquê pedir exames. Osso! Foi um mês e quatro dias que eu teria para explicar  aos meus filhos que não haveria mais a possibilidade de ouvir o barulho na porta e a correria para saber quem conseguiria abraço-lo primeiro. Foi um mês e quatro dias que silenciaria o "Criaaaaanças!" forte pela manhã. Foi um mês e quatro dias que eu teria que ser forte mesmo querendo colo. Foi um mês e quatro dias no qual eu não tinha mais o que pesquisar a não ser a droga de um LTV 1000 que cismava em dizer  DISC/SENSE e HIGH/PRESS e até entender que às traqueias não poderiam criar água, ficávamos estudando o manual. Foi um mês e quatro dias que descobri uma cuidadora/parceira/amiga ideal, que acreditava junto comigo que ele entendia tudo que se passava em volta, né, Auxi? E a gente conseguia  vez em quando um sorriso amarelo com as bobagens que falávamos. Foi um mês e quatro dias que eu aceitei que o meu melhor amigo teria que ir embora para sempre. 

Você esqueceu de deixar o track da trilha para eu continuar. Foda isso, barrão! 

2 comentários:

Anônimo

Te Adoro, <3 minha amiga guerreira bem que você podia escrever um livro, você tem tudo para isso, beijos!!! Cynthya

Anônimo

Não deixei de te ler!
To com vc e não abro, a florzinha mais guerreira que eu conheciiiiiii!
bjs, Camis Cruz Sampaio